Diversificação: quem se lembra das batatas irlandesas
Negócios - 14/10/2021

O Valor Econômico publicou artigo exclusivo da Sequóia Properties sobre a importância da diversificação nos investimentos. Leia abaixo.

Batatas foram umas das primeiras plantas domesticadas pelos humanos, há mais de dez mil anos. Originárias da América do Sul, chegaram à Europa no século XVI e rapidamente se popularizaram em função do sabor, facilidade de plantio e alto valor calórico. Na Irlanda, especificamente, tornou-se um dos principais componentes da dieta nacional. Até que, na década de 1840, uma praga chamada Phytophthora infestans arrasou as plantações do país, causando uma crise alimentar que matou mais de um milhão de pessoas – um em cada oito irlandeses.

Estudos posteriores identificaram a causa: a importação da batata se dera através de poucas espécies, e aquela amplamente adotada na Irlanda se mostrou especialmente frágil à atuação da P. infestans. Ou seja, a falta de variabilidade genética foi responsável por uma das piores crises humanitárias da Europa, já que diversas outras espécies do tubérculo possuem uma resistência natural àquela praga.

O episódio nos ensina uma importante lição, amplamente conhecida no mundo dos investimentos: a necessidade da diversificação. Todo curso de finanças ensina os benefícios de se investir com diversificação e todo portfólio se beneficiaria de algum grau de diversificação no longo prazo. O fato de ser bastante conhecida, no entanto, não garante que a prática seja amplamente adotada pelos investidores.

Afinal, o que é diversificação? Nada mais é do que diluir seus investimentos em ativos de setores diferentes da economia, expostos a riscos de formas distintas. É o famoso “não coloque todos os ovos na mesma cesta”. Uma diversificação bem executada melhora a relação risco-retorno de um portfólio, reduzindo o risco sem necessariamente reduzir o retorno esperado. Vale notar que não é a quantidade de ativos que garante a diversificação de um portfólio. É necessário que os ativos possuam perfis de risco distintos.

Na prática, adotar uma estratégia ativa de diversificação é uma tarefa mais complicada do que parece. Quantos ativos diferentes devem compor o portfólio? Que peso cada um deve ter na carteira? Como medir os resultados ao longo do tempo? Estas são apenas algumas das perguntas que um investidor se depara ao tentar diversificar seu portfólio. Mesmo investidores profissionais não possuem respostas exatas e se dedicam com profundidade para implementar o melhor equilíbrio em suas alocações.

Em financês técnico, podemos dizer que todo ativo está sujeito à incidência de dois tipos de risco: sistêmico e idiossincrático. O risco sistêmico é inerente ao contexto no qual os ativos estão inseridos (performance da economia mundial, por exemplo), e não pode ser eliminado pela diversificação, pois afeta a economia como um todo. Já o risco idiossincrático, inerente ao próprio ativo (taxa de câmbio para uma companhia exportadora, por exemplo), pode ser eliminado pela adoção de uma diversificação eficiente. Um portfólio com essa combinação perfeita, na teoria, consegue eliminar a totalidade de seu risco idiossincrático.

Vamos pegar o mercado de fundos de investimento imobiliário (FIIs) como exemplo. Este é um produto que vem se tornando cada vez mais popular entre os brasileiros. De acordo com a B3, mais de 1,3 milhão de pessoas já investem em FIIs. Mas, apesar de ter crescido 630% em pouco mais de dois anos, este número ainda é muito baixo quando comparado a mercados maduros. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 90 milhões de pessoas investem em FIIs (ou REITs, como são conhecidos por lá).

A necessidade de diversificação em fundos imobiliários se tornou ainda mais evidente com a pandemia da COVID-19. Quem tinha grande parte de sua carteira alocada em fundos específicos (shoppings centers, por exemplo), sentiu o efeito de forma intensa. Estes fundos tiveram quedas expressivas nos rendimentos e no valor das cotas, reflexo das restrições de mobilidade causadas pela pandemia. Fundos logísticos, por outro lado, tiveram comportamento bem distinto, com recuperação muito mais rápida devido à aceleração da adoção do e-commerce.

No Brasil, cerca de 85% dos investidores que aplicam em FIIs o fazem há menos de dois anos. E cerca de 50% há menos de um ano. Ou seja, o investidor brasileiro, em geral, ainda não teve tempo suficiente para viver a experiência de como estes ativos se comportam em diferentes ciclos econômicos, quais são as melhores alocações e qual é a diversificação ideal para cada um. Neste sentido, entendemos que os gestores de FIIs ainda possuem uma importante responsabilidade de prover este serviço ao investidor, construindo portfólios diversificados em seus fundos, que sejam resilientes e estáveis no longo prazo, mesmo em ciclos econômicos adversos. Afinal, caso o gestor não exerça uma diversificação ativa, esta responsabilidade recai inteiramente sobre o investidor.

Por isso, definimos a estratégia do nosso fundo a partir de uma base multisetorial - logístico, industrial, varejo e renda urbana – e seguiremos crescendo com essa filosofia de renda diversificada. Nós nunca esquecemos das batatas irlandesas.

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Diversificação: quem se lembra das batatas irlandesas? | Finanças | Valor Econômico

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